segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Obra Completa

Peças:

Peças psicológicas

  • A mulher sem pecado
  • Vestido de noiva
  • Valsa n° 6
  • Viúva, porém honesta
  • Anti-Nelson Rodrigues

Peças míticas

  • Álbum de família
  • Anjo negro
  • Dorotéia
  • Senhora dos afogados

Tragédias cariocas

  • A falecida
  • Perdoa-ma por me traíres
  • Os sete gatinhos
  • Boca de ouro
  • O beijo no asfalto
  • Otto Lara Resende ou Bonitinha, mas ordinária
  • Toda nudez será castigada
  • A serpente

Livros:

Romances

  • Meu destino é pecar,“O Jornal” - 1944 / “Edições O Cruzeiro” - 1944 (como “Suzana Flag”)
  • Escravas do amor, “O Jornal” - 1944 / “Edições O Cruzeiro” - 1946 (como “Suzana Flag”)
  • Minha vida, “O Jornal” - 1946 / “Edições O Cruzeiro” - 1946 (como “Suzana Flag”)
  • Núpcias de fogo, “O Jornal” - 1948. Inédito em livro. (como “Suzana Flag”)
  • A mulher que amou demais, “Diário da Noite” - 1949. Inédito em livro. (Como Myrna)
  • O homem proibido, “Última Hora” - 1951. “Editora Nova Fronteira”, Rio, 1981 (como Suzana Flag).
  • A mentira, “Flan” - 1953. Inédito.. (Como Suzana Flag).
  • Asfalto selvagem, “Ultima Hora” - 1959-60. J.Ozon Editor, Rio, 1960. Dois volumes. (Como Nelson Rodrigues)
  • O casamento, Editora Guanabara, Rio, 1966 (como Nelson Rodrigues).
  • Asfalto selvagem - Engraçadinha: seus amores e pecados, “Companhia das Letras”, São Paulo.
  • Núpcias de fogo, “Companhia das Letras”, São Paulo. (como Suzana Flag).

Contos

  • Cem contos escolhidos - A vida como ela é..., J. Ozon Editor, Rio, 1961. Dois volumes.
  • Elas gostam de apanhar, “Bloch Editores”, Rio, 1974.
  • A vida como ela é – O homem fiel e outros contos, “Companhia das Letras”, São Paulo, 1992. Seleção: Ruy Castro.
  • A dama do lotação e outros contos e crônicas, “Companhia das Letras”, São Paulo.
  • A coroa de orquídeas, “Companhia das Letras”, São Paulo.

Crônicas

  • Memórias de Nelson Rodrigues, “Correio da Manhã” / “Edições Correio da Manhã”, Rio, 1967.
  • O óbvio ululante, “O Globo” / “Editora Eldorado”, Rio, 1968.
  • A cabra vadia, “O Globo” / “Editora Eldorado”, Rio, 1970.
  • O reacionário, “Correio da Manhã” e “O Globo” / “Editora Record”, Rio, 1977.
  • O óbvio ululante – Primeiras confissões, “Companhia das Letras”, São Paulo, 1993. Seleção: Ruy Castro.
  • O remador de Ben-Hur - Confissões culturais, “Companhia das Letras”, São Paulo.
  • A cabra vadia - Novas confissões, “Companhia das Letras”, São Paulo.
  • O reacionário - Memórias e Confissões, “Companhia das Letras”, São Paulo.
  • A pátria sem chuteiras - Novas crônicas de futebol, “Companhia das Letras”, São Paulo.
  • A menina sem estrela - Memórias, “Companhia das Letras”, São Paulo.
  • À sombra das chuteiras imortais - Crônicas de Futebol, “Companhia das Letras”, São Paulo.
  • A mulher do próximo, “Companhia das Letras”, São Paulo.


Dramaturgia de Nelson

    As peças de Nelson Rodrigues podem ser divididas em três grupos temáticas: peças psicológicas, míticas e tragédias cariocas. Encontrando em todas elas um aprofundamento nas raízes bem primitivas do homem.
   Assim analisa Sábato Magaldi, crítico e admirador da obra rodriguiana:
“A evolução dramatúrgica de Nelson levava inevitavelmente a esse mergulho na inconsciência primitiva do homem. A Mulher Sem Pecado já estava carregada de motivos psicológicos, prestes a romper as barreiras da censura interior. Vestido de Noiva rasgou o véu da consciência, para dar livre curso às fantasias do subconsciente. Na exploração das verdades profundas do indivíduo, o passo seguinte se dirigiria para o estabelecimento dos arquétipos, dos mitos que se encontram nas origens das nossas forças ‘vitais’. A menos que traísse sua vocação autêntica, Nelson teria mesmo que escrever Álbum de Família.” (Rodrigues, 1981:14).
   Este era o teatro que Nelson Rodrigues buscava e que muito se distancia da idéia atual de um mero entretenimento. O teatro, como tal, adquiria um papel terapêutico. E de fato, todos os personagens do autor, principalmente os femininos, em determinado momento sucumbem, como que possuídos por uma força estranha, como se uma voz que fala por eles, numa espécie de transe histérico.
   Temos nas peças míticas se encerram com Senhora dos Afogados, peça inspirada na Oréstia, a trilogia de Ésquilo. É curioso notar a simbologia do mar na trama: “Há também um personagem invisível: O mar próximo e profético, que parece estar sempre chamando os Drummond, sobretudo as mulheres.” (Rodrigues,1981: 259).
    De acordo com J. Brandão as próprias bacantes eram muitas vezes chamadas de “mulheres do mar” o que remete à outra visão do Nelson adolescente em que as ondas se transfiguravam em mulheres se contorcendo nas convulsões do amor. As mulheres e a histeria são símbolo de uma situação coletiva.

Personalidade de Nelson

     Nelson Rodrigues tinha a capacidade de mergulhar nas profundezas sombrias e trazê-las a tona de forma brutal num estilo quase que sarcástico como apenas uma pessoa com um forte poder de julgamento e crítica poderia. O retrato cru dessa natureza instintiva do homem que toca o absurdo, ganha um tom irônico, crítico, característico de sua arte

    O aprofundamento da intuição leva naturalmente o indivíduo a um grande afastamento da realidade palpável, a pessoa e a arte de Nelson Rodrigues sempre provocaram estranhamento. Segundo consta em sua biografia, quando menino já possuía certo ar melancólico de afastamento da realidade, só que, nele, essa melancolia era dramática, de tango. Ao contrário dos irmãos, era avesso aos esportes, sua paixão pelo futebol era apenas de espectador, não se animava a ir à praia e precisava ser subornado para que participasse de brincadeiras na garagem.

    Nelson era uma personalidade marcada por grandes contradições, um conservador que ao mesmo tempo proclamava a liberdade, os vários relacionamentos extraconjugais mantidos ao longo da vida paralelos a um casamento indissolúvel com uma mulher bastante idealizada revela um drama comum do homem cristão dividido.

Rui Castro que escreveu uma biografia sobre o autor relata algumas manifestações do inconsciente em Nelson: “… seus apelos à sensibilidade ficaram tão agudos que começou a enxergar miragens. Em ‘O elogio do silêncio’, de 23 de fevereiro, Nelson viu ‘flores que se transformam em lindos seios de mulher, seios que acabam como botões de rosa’. Em ‘A felicidade’, de 8 de março, comparou a lua a ‘uma prostituta velha que ainda se julga apetecível para rapazes que zombam dela’. E em ‘Palavras ao mar’, de 22 de março, descreveu ondas que ‘depois de alternarem num arremesso formidável, caem ruidosamente no torvelinho branco de espumas, parecendo um bando de mulheres se contorcendo em convulsões de amor’.” (1992: 65).Vemos muito isso na imagem da mulher ainda bastante presa à imagem materna gera uma cisão em que pureza e sexualidade que se antagonizam.
     A concretização através dos personagens desse lado primitivo que o homem civilizado sequer pode reconhecer como pertencente a si adquire uma função purificatória. No encontro com o sombrio, grotesco e desagradável existem possibilidades de vida e criação, pois a moralidade rígida atende mais a um ideal de perfeição do que de totalidade. A totalidade de anjo pornográfico, capaz de interagir com diferentes aspectos do ser.

Simbologias

Nelson tomou liberdades que nem um outro dramaturgo tinha tomado, essas liberdades se inscreveriam na escola surrealista, expressionista e no Teatro do Absurdo. O teatro do absurdo propõe revelar o inusitado, como já diz o nome, ele foca principalmente o comportamento humano, deflagrando a relação das pessoas e seus atos concomitantes. O objetivo maior desse gênero é promover a reflexão no público, de forma que a maioria dos roteiros absurdos procuram expor o paradoxo, a incoerência, a ignorância de seus personagens em um contexto bastante expressivo, trágico aprofundado pela discussão psicológica de cada personagem apresentado, com uma nova linguagem.
Trabalhando com mitos e arquétipos, Nelson nos legou a complexidade da contradição e possibilitou simbologias e temas que acompanhariam sistematicamente toda a sua obra. Como exemplos temos:

A MORTE:
Raramente natural, e acompanhada sempre por violência em quase toda a totalidade dos desfechos trágicos, como uma punição que dá vitória final ao princípio moral / superego / sociedade. A morte não é colocada como castigo, mas como uma finalização necessária ao conflito. Só através da morte simbólica da figura repressora externa ou interna é que o conflito pode ser resolvido.

O SOFRIMENTO:
A maioria dos protagonistas de Nelson suporta uma carga de aniquilamento que os aproximam dos heróis expressionistas e trágicos. A morte deixa de ser punição para assumir a fase de redenção. 
A CAMA DO CASAL E O CASAMENTO:

Não aparece como o local do encontro e da união, transforma-se em mais uma forma de se estar só. Esta instituição nos é apresentada como algo triste, insípido e casto.

A CASA:

A casa não é o palco para o encontro de homens e mulheres. É o local da família, da mãe e dos seus. É o local do feminino e das relações pessoais. É regido por regras definidas pelo parentesco. É o local do respeito entre pais e filhos, do autoritarismo e do controle. 
A RUA: 

Construindo seu par dialético a rua é o local da competição, da seleção natural, do trabalho, de uma ética pertencente a um modelo ainda masculino. É o local da escolha de relações, da disputa e onde nem a hierarquia e nem os papeis de cada membro é claro. A rua aparece como o lugar do desregramento, é onde o homem faz-se animal, perpetuamente solteiro e as mulheres tornam-se ali possuidoras dos dotes profanos, sendo mais um objeto a ser cassado e adquirido. A expressão mulher de rua fala por si. 

A ESPOSA:

A esposa tem no seu arquétipo a imagem da santa, intocável e assexuada. O profano viola o ambiente da santa, macula a honra de uma moral cristã e a sua respectiva instituição doméstica. Encontramos na casa a santa e na rua a puta. 
A PUTA:

Os prazeres carnais do feminino, no teatro rodriguiano, ficam destinados exclusivamente às putas, e assim também suas conseqüências. Ir da santa para a puta é um convite constante, saboroso e de fácil execução. Já o oposto custa longos rituais e sacrifícios que muitas vezes não resulta em nada. Santa e puta são os arquétipos de nossas personagens femininas.

Comentários de Obras I

Vestido de Noiva

Cena de "Vestido de Noiva"

Inicialmente chamada de Véu de Noiva, é uma tragédia sobre a memória de Alaíde, uma moça recém-casada que sofre um acidente e é submetida a uma operação de urgência. Na peça, Nelson Rodrigues usou um recurso muito pouco explorado até o momento na dramaturgia brasileira: o flashback Que foi utilizado para mostrar a memória de Alaíde, que se dividia em três planos: a realidade, a memória e a alucinação. Não raro as cenas se repetem com desfechos diferentes, como quando Alaíde mata o noivo no plano da ficção, desejo reprimido por ela na realidade. Se uma peça já confundi e fascina o espectador, imagina na sua estréia em 28 de dezembro de 1943, no teatro Municipal do Rio de Janeiro. Vestido de Noiva foi apontada como a grande realização do Teatro Brasileiro.
A peça é fundamentalmente expressionista, pois grande parte do que se vê em cena constitui projeção do que se passa na mente de Alaíde (personagem principal).



A falecida (1953)
Fernanda Montenegro no longa-metragem de "A falecida"

A peça começa com a protagonista, Zulmira. No primeiro ato, o autor apresenta as relações entre os personagens: Tuninho é o marido desempregado de Zulmira. Zulmira é uma esposa com problemas, que não gosta muito de Tuninho, tanto que nem ao menos quer beijá-lo. Zulmira conhece uma cartomante de pouca confiança mas que Zulmira acredita, tanto é que acredita que sua prima Glorinha fez macumba para que ela ficasse com o nariz entupido.
Uma das inovações de Nelson Rodrigues nessa peça aparece no fim do primeiro ato, quando ele  alude ao câncer de uma maneira cômica, o que não era admitido na época na comédia clássica, afinal, o câncer é uma doença séria que muitas vezes pode ser mortal. O fato é que a partir do momento que o câncer foi mencionado,  o texto quebra  o acordo que vinha propondo até ali, acordo comum às comédias ligeiras – o de não trazer a tona nada de excessivamente desagradável, já que o objetivo é o de divertir o público, sem confundi-lo, sem fazê-lo sofrer.
A peça mostra muitas características da sociedade brasileira presentes naquela época. Nelson Rodrigues coloca a traição como se fosse uma característica quase inevitável da sociedade.

domingo, 15 de agosto de 2010

Comentários de Obras II

Beijo no asfalto (1961)

Momento em que o atropelado pede o beijo

A peça se inicia com um homem socorrendo um outro homem que acabara de ser atropelado, este, como último pedido, pede um beijo ao homem que o está socorrendo. O homem, por piedade, concede ao atropelado este último prazer, porém, alguém viu a cena e a história vira material de fofoca para o jornal.  A imprensa declara que os dois eram amantes, mesmo sendo casados.  Logo então, a polícia e os jornais querem que essa seja a história oficial e tentam persuadir as mulheres de que realmente os dois eram gays. O jornal gosta da versão pois assim irá vender mais cópias e a polícia para simplesmente fechar o caso.
A peça foi escrita em apenas 21 dias e foi inspirada na história de um repórter do jornal “O Globo”, que foi atropelado por um ônibus antigo. No chão, o jornalista que já estava mais velho, pedira um beijo a uma jovem que tentava socorrê-lo. Nelson soube da história e a mudou.
A trama se desenvolve de tal maneira que no fim das contas nem a mulher do jovem homem que beijara o acidentado acredita na próprio marido.

Álbum de Família

                                                  Foto de uma das encenações da peça

Na peça, Nelson resolve falar do cotidiano de uma família que aparentemente era comum, com um casal, quatro filhos e uma tia solteira. Porém, não há um personagem que não perca a máscara durante a peça.
Um dos grandes temas abordados na peça é o incesto, que logo aparece da filha Glória pelo pai e de Edmundo, o filho que é apaixonado pela mãe. Guilherme que é o primogênito se castrou para não colocar em jogo a virgindade da irmã. Jonas, o pai, desvirgina meninas de 12 a 16 anos na sua própria casa para compensar o amor impossível que sente pela sua filha. A mãe, a personagem  Dona Senhorinha, é apaixonada pelo filho Nonô, que vive pelado pela fazenda.
Das peças de Nelson, essa foi a terceira que criou um escândalo, por ser uma peça cheia de incestos, assassinatos e mutilações. Na época, a peça foi censurada.

Características das Obras de Nelson Rodrigues

Madame Clessi de "Vestido de Noiva" interpretada por Marília Pera

Muito de sua dramaturgia representa a família, sua organização, conflitos e todos os problemas envolvidos nessa temática, mesmo que muitas vezes sua história apresente vários temas simultâneos, seu foco principal consistia nisso. E os problemas apresentados por Nelson relacionado a ela na maioria das vezes é de origem sexual, apresentando incestos, infidelidade, insatisfação, entre outros. Quando a questão é a infidelidade, Nelson faz questão de demonstrar que esta acaba por afetar todos de uma família, que traição está diretamente ligada a honra.
Ao representar algumas personagens femininas, Nelson é influenciado por toda uma problemática sócio-cultural, e traz cravado em sua obra um conceito da sociedade da época, que acreditava que a virgindade servia para detectar as moças ''puras'' das putas, não existia um meio termo quando se tratava de caráter, as virgens eram santas e as não virgens eram canalhas. E tudo isso estava relacionado ao pecado. Pecado e morte também estavam sempre presentes nas suas obras.
Cena de "Beijo no asfalto"

Nelson acreditava habitar em cada ser humano duas 'faces'', geralmente classificadas por ele como santos e canalhas, e cada ser humano não estaria livre delas,sendo que na sua opinião a que prevalecia era a canalha. O lado santo é o lado bom, que merece perdão, redenção, os canalhas se deixavam levar por seus desejos, fazendo o que fosse preciso para realizá-los, da maneira mais imoral Possível se assim fosse necessário. E que nem todo mundo é tão santo que não possa ter um canalha em si e vice-versa. Muito de sua obra e seus personagens  giram em torno dessa idéia que é seu ponto de vista em relação à natureza humana.
Nelson produziu o que Antonin Artaud (1896 – 1948) considerou ''teatro da crueldade'', porém Nelson considerou como ''teatro desagradável'' porque tratava da realidade que a platéia não queria ver. Não escrevia pensando em agradar ninguém. Por isso foi considerado tarado, pervertido, pois escrevia o que muitos não queriam ver,n ão da maneira em que ele contava, de forma direta, e certas vezes até mórbida. Ele cria em seu teatro a visão do vazio existencial de cada indivíduo, mesmo vivendo em sociedade, e esta ainda colabora para esse vazio ao invés de ajudar.
O que podemos perceber nitidamente fazendo uma associação de sua vida pessoal e sua obra, e que sua vida pessoal é visível dentro de suas obras, trazendo consigo características vividas ou presenciadas. Nelson simplesmente conseguia enxergar a realidade e não ter medo de mostrá-la, numa época em que as pessoas preferiam não vê-la, mas tinha uma visão mais ampla dos acontecimentos, levando em consideração não somente os fatos, mas as obsessões por trás deles. Sua obra está repleta de obsessões.
Aos 8 anos de idade ele escreveu uma redação para a escola, onde contava a história de um adultério que resultava na morte da adúltera. Isso mostra a sua obsessão que o acompanha desde pequeno: o sexo e a morte, sempre de mãos dadas. Desde cedo ele  tem acesso a leituras mais pesadas, que vieram a influenciar também em suas obras, variavam os autores mas o tema era sempre o mesmo: a morte punindo o sexo ou o sexo punindo a morte, ou até os dois juntos.
Em algumas delas,Nelson mistura personagens fictícios, com personagens reais, pessoas comuns do dia-a-dia, mas sua intenção nunca foi fazer da realidade uma ficção e tampouco a ficção uma forma de realidade, o que ele queria era criar uma realidade diferente, a realidade da cena, para ele era isso que importava para o teatro: a verdade da cena.
Seus personagens apresentam uma incontrolável angústia sexual pois suas práticas contrariam os valores morais da sociedade, ou acabam reprimindo seus desejos. A angústia vem por serem reprimidos ou livres demais. A maioria deles foram inspirados na sua própria vizinhança, da rua alegre, pra onde a família Rodrigues se mudou em 1916, até os alguns nomes de personagens são iguais aos de seus antigos vizinhos, aqueles que de certa forma o marcaram.
Nelson Rodrigues

Nelson admite que a primeira peça que escreveu, tinha como objetivo ganhar dinheiro, mas  durante a escrita foi tomado por uma vontade de fazer uma obra que impressionasse os intelectuais da época. Sua obras iam contra aqueles que queriam um ''teatro sério'' afinal ele estava em oposição ao teatro comercial, pois sua intenção não era agradar o público e falar pra eles o que eles queriam ouvir. Ele pouco se importava com que o público considerava moralmente aceitável. Nelson considerava que toda unanimidade é burra, e ele diz isso porque considera a opinião pública um julgamento de aparências.

O espaço das Obras de Nelson

Nelson nasceu em Pernambuco, mas passou grande parte da sua vida no Rio de Janeiro, conhecendo a fundo a cidade a que tanto faz referências na sua obra. Nelson mostra a desigualdade social existente na cidade, e faz referências principalmente à zona norte, zona sul e centro, que estaria entre eles. É comum habitantes do subúrbio aparecerem na zona sul, mas a situação é sempre de submissão, prostituição, acerto de contas. Os personagens moram na zona norte e pecam na zona sul.

Para ele a cidade é muito mais do que um cenário, o espaço urbano está ligado diretamente aos conflitos internos dos personagens, não é mais apenas uma critica à cidade e é através do ritmo de suas falas e da própria maneira de falar com gírias que ele classifica os habitantes de cada área do Rio de Janeiro. Nelson queria que o público se identificasse com o que visse, não no sentido de gostar, e sim no sentido de enxergar a sua maneira de reproduzir a realidade. Reproduzir, pois Nelson não é um retratista, ele apenas faz um paralelo com a realidade.
            Vista do Teatro Municipal do Rio de Janeiro em 1940

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Vídeo Documentários e Bibliografia

Documentário sobre Nelson Rodrigues e o Cinema:
O Cinema de Nelson

Entrevista com Nelson Rodrigues, por Otto Lara Resende em 3 partes:
Entrevista 01
Entrevista 02
Entrevista 03





Referências bibliográficas

* BRANDÃO, J. De S. (1996). Mitologia Grega, vol. I II e III. Petrópolis: Vozes.
 * CASTRO, R. (1992). O Anjo Pornográfico: A vida de Nelson Rodrigues. São Paulo: Companhia das Letras.
* CASTRO, R, seleção e org. (1997). Flor de Obsessão: As 100 melhores frases de Nelson Rodrigues. São Paulo: Companhia das Letras
* JUNG, C.G. (1991). Tipos Psicológicos. Obras Completas, vol.VI. Petrópolis: Vozes.
* JUNG, C.G. (1996). O Eu e o Inconsciente. Obras Completas, vol.VII/2. Petrópolis: Vozes.
* JUNG, C.G. (1984). Psicologia e Religião. Obras Completas, vol. X/1. Petrópolis: Vozes.
* RODRIGUES, N. (1981). Teatro Completo de Nelson Rodrigues, vol.2. Rio de Janeiro: Nova Fronteira.