segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Dramaturgia de Nelson

    As peças de Nelson Rodrigues podem ser divididas em três grupos temáticas: peças psicológicas, míticas e tragédias cariocas. Encontrando em todas elas um aprofundamento nas raízes bem primitivas do homem.
   Assim analisa Sábato Magaldi, crítico e admirador da obra rodriguiana:
“A evolução dramatúrgica de Nelson levava inevitavelmente a esse mergulho na inconsciência primitiva do homem. A Mulher Sem Pecado já estava carregada de motivos psicológicos, prestes a romper as barreiras da censura interior. Vestido de Noiva rasgou o véu da consciência, para dar livre curso às fantasias do subconsciente. Na exploração das verdades profundas do indivíduo, o passo seguinte se dirigiria para o estabelecimento dos arquétipos, dos mitos que se encontram nas origens das nossas forças ‘vitais’. A menos que traísse sua vocação autêntica, Nelson teria mesmo que escrever Álbum de Família.” (Rodrigues, 1981:14).
   Este era o teatro que Nelson Rodrigues buscava e que muito se distancia da idéia atual de um mero entretenimento. O teatro, como tal, adquiria um papel terapêutico. E de fato, todos os personagens do autor, principalmente os femininos, em determinado momento sucumbem, como que possuídos por uma força estranha, como se uma voz que fala por eles, numa espécie de transe histérico.
   Temos nas peças míticas se encerram com Senhora dos Afogados, peça inspirada na Oréstia, a trilogia de Ésquilo. É curioso notar a simbologia do mar na trama: “Há também um personagem invisível: O mar próximo e profético, que parece estar sempre chamando os Drummond, sobretudo as mulheres.” (Rodrigues,1981: 259).
    De acordo com J. Brandão as próprias bacantes eram muitas vezes chamadas de “mulheres do mar” o que remete à outra visão do Nelson adolescente em que as ondas se transfiguravam em mulheres se contorcendo nas convulsões do amor. As mulheres e a histeria são símbolo de uma situação coletiva.

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