segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Simbologias

Nelson tomou liberdades que nem um outro dramaturgo tinha tomado, essas liberdades se inscreveriam na escola surrealista, expressionista e no Teatro do Absurdo. O teatro do absurdo propõe revelar o inusitado, como já diz o nome, ele foca principalmente o comportamento humano, deflagrando a relação das pessoas e seus atos concomitantes. O objetivo maior desse gênero é promover a reflexão no público, de forma que a maioria dos roteiros absurdos procuram expor o paradoxo, a incoerência, a ignorância de seus personagens em um contexto bastante expressivo, trágico aprofundado pela discussão psicológica de cada personagem apresentado, com uma nova linguagem.
Trabalhando com mitos e arquétipos, Nelson nos legou a complexidade da contradição e possibilitou simbologias e temas que acompanhariam sistematicamente toda a sua obra. Como exemplos temos:

A MORTE:
Raramente natural, e acompanhada sempre por violência em quase toda a totalidade dos desfechos trágicos, como uma punição que dá vitória final ao princípio moral / superego / sociedade. A morte não é colocada como castigo, mas como uma finalização necessária ao conflito. Só através da morte simbólica da figura repressora externa ou interna é que o conflito pode ser resolvido.

O SOFRIMENTO:
A maioria dos protagonistas de Nelson suporta uma carga de aniquilamento que os aproximam dos heróis expressionistas e trágicos. A morte deixa de ser punição para assumir a fase de redenção. 
A CAMA DO CASAL E O CASAMENTO:

Não aparece como o local do encontro e da união, transforma-se em mais uma forma de se estar só. Esta instituição nos é apresentada como algo triste, insípido e casto.

A CASA:

A casa não é o palco para o encontro de homens e mulheres. É o local da família, da mãe e dos seus. É o local do feminino e das relações pessoais. É regido por regras definidas pelo parentesco. É o local do respeito entre pais e filhos, do autoritarismo e do controle. 
A RUA: 

Construindo seu par dialético a rua é o local da competição, da seleção natural, do trabalho, de uma ética pertencente a um modelo ainda masculino. É o local da escolha de relações, da disputa e onde nem a hierarquia e nem os papeis de cada membro é claro. A rua aparece como o lugar do desregramento, é onde o homem faz-se animal, perpetuamente solteiro e as mulheres tornam-se ali possuidoras dos dotes profanos, sendo mais um objeto a ser cassado e adquirido. A expressão mulher de rua fala por si. 

A ESPOSA:

A esposa tem no seu arquétipo a imagem da santa, intocável e assexuada. O profano viola o ambiente da santa, macula a honra de uma moral cristã e a sua respectiva instituição doméstica. Encontramos na casa a santa e na rua a puta. 
A PUTA:

Os prazeres carnais do feminino, no teatro rodriguiano, ficam destinados exclusivamente às putas, e assim também suas conseqüências. Ir da santa para a puta é um convite constante, saboroso e de fácil execução. Já o oposto custa longos rituais e sacrifícios que muitas vezes não resulta em nada. Santa e puta são os arquétipos de nossas personagens femininas.

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